DEUS É FIEL

sexta-feira, 12 de julho de 2013

SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

Não é sem razão que Davi figura como um dos mais famosos personagens da Bíblia: ele é uma das interessantes personalidades que nos foram deixadas pelo texto sagrado. Tão complexo em todas as suas facetas – menino pastor, músico, poeta, depois herói popular, comandante de exército, então guerrilheiro e finalmente rei – que alguns eruditos duvidam de sua existência histórica.

Entretanto, o que me chama a atenção na vida deste homem não são seus talentos, mas especialmente duas questões intrigantes. A primeira, é a sinceridade com que a Bíblia o descreve – com toda a podridão de seus pecados. A segunda questão é a expressão com que Deus o denomina: “um homem segundo o meu coração” (1Sm 13.14 e At 13.22). Interessante tal afirmação justamente diante da verdade sobre suas falhas. Que características há em Davi que o tornam um homem segundo o coração de Deus, ou seja, um homem como Deus quer que seja?

Me parece que podemos descartar a perfeição como o padrão exigido para agradar ao Senhor. Os textos são por demais enfáticos nos seus pecados para que o consideremos um exemplo de virtude. A maneira como Davi lidava com eles é que nos serve de exemplo; por isso, sempre é mencionado o caráter do arrependimento como o diferencial daquele homem. Mas penso que ainda há algo antes disso que dá a base para sua atitude humilde. Na teologia de Davi, Deus não trabalhava para ele; era Davi quem tentava descobrir a vontade do Senhor e praticá-la. Todas as suas atitudes revelavam sempre isso: uma profunda sujeição ao que Deus determinava, mesmo que fosse muito, mas muito ruim pra ele.

Vamos ver alguns exemplos:
1. Após o pecado de adultério com Bate-Seba, mentira, traição e assassinato de Urias, o bebê que ela concebera adoeceu. Davi clamou a Deus com intensidade emocionante, jejuando, chorando e orando sem parar. Não surtiu o efeito que o rei desejava: a criança morreu. Ao saber do desfecho, o monarca causou estranheza aos funcionários do palácio por sair do luto, tomar banho e se alimentar. Ele nada mais podia fazer; Deus determinara Sua decisão e ele a aceitara (2Sm 12).
2. Quando sofreu um golpe de estado da parte de seu filho Absalão, Davi fugiu de Jerusalém. Um homem lhe atirava pedras ao longo do caminho, mas Davi não permitiu que seus soldados o repreendessem, já que considerava a possibilidade de que Deus o tivesse mandado para humilhá-lo (2Sm 16).
3. Em outro episódio, após cair no pecado do orgulho, Davi ofereceu um sacrifício num terreno adjacente a Jerusalém, sobre o monte Moriá. O dono do terreno, um rico cananeu chamado Araúna, quis dar o local de graça. Davi rejeitou a proposta e decidiu pagar por tudo – tanto pelo terreno como pela madeira e o animal sacrificado. Na ocasião, o velho rei nos presenteou com um enunciado que revela seu caráter: “Não darei ao Senhor um sacrifício que não me custe nada” (2Sm 24.24). O que muitos considerariam uma “bênção”, para Davi era algo que não condizia com sua relação com Deus. Ser fiel a Deus sempre nos custa algo; sacrificar demanda alguma perda para nós.

Todas essas experiências muito humanas e até mesmo frustrantes de Davi nos revelam seu segredo. São marcas de como ele entendia a sua posição diante de Deus: Davi era o servo sem nenhum tipo de direito, e Deus era o Senhor absoluto. Quando pecava, confessava – e toda confissão é a admissão clara e irrestrita de quem se é, por mais sujo que pareça. Quando pedia algo, não determinava – servos não ordenam nada. Era segundo o coração de Deus porque seu arrependimento era baseado em saber exatamente quem ele era: homem, pecador, dependente da graça e misericórdia do soberano Deus.

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