DEUS É FIEL

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O segredo de José

O segredo de José só não é mais simples porque a dificuldade está em colocá-lo em prática



Inegavelmente, a história de José – aliás, o livro de Gênesis é um dos mais ricos e belos da Bíblia – é um primor de literatura, e sua história ainda hoje rende pregações inflamadas e hinos inspirados. Não é à toa, se você prestar atenção nas ricas experiências pelas quais José passou e as lições que aprendeu.

José, um exemplo de servo de Deus, dotado de rara inteligência e sabedoria, era o que se podia chamar hoje de “visionário” (sonhador), alguém que enxergava o futuro (profeta) e que sabia administrar como ninguém, mas, sua principal característica era a fidelidade a Deus em meio às maiores provações. Ele foi alvo da inveja homicida de seus meio-irmãos, jogado no fundo do poço e tirado de lá para ser vendido como escravo… tudo por causa do amor e admiração que seu pai lhe nutria e dos sonhos que tinha.

Com tantas qualidades, tanto como homem público como homem imerso em sua vida pessoal, torna-se até difícil eleger a principal virtude de uma personagem tão marcante das Escrituras. Todavia, à guisa de opiniões divergentes, julgamos que a principal razão dele ter sido alguém que não apenas teve seu lugar marcado na História, como foi um protagonista de sua própria história, quando tudo conspirava para que ele fosse um mero coadjuvante por onde passava, era seu carácter irrepreensível e sua convicção em permanecer fiel a Deus onde quer que fosse ou o que fizesse, fosse na casa de seu senhor, fosse na casa de sua servidão, mandando ou sendo mandado.

Hoje em dia, é difícil achar alguém como José, com a qualidade de saber ser servo e, após exaltado, não querer se exaltar e fazer justiça com as próprias mãos. Pessoas com inteligência e competência administrativa como ele até que não faltam, mas com a sua humildade e desprendimento são raras. Ainda mais levando-se em conta a massiva propaganda triunfalista pregação da prosperidade que assola nossos púlpitos hoje, como verdadeira praga, transcendendo as fronteiras denominacionais e geográficas.

Infelizmente, se alguém passasse pelo que José passou, e chegasse onde ele chegou, perseguiria seus opositores de tal forma que não deixaria raiz nem ramo. Mas, é assim que deve ser e se portar um servo de Deus? É isto que se espera de alguém que carrega a cruz diariamente e abriga o Espírito de Deus firmemente? Não, não é isso que se espera de alguém com esse perfil.

Quando se fala em apelo missionário, a visão que muitos têm é de ir para algum país rico de primeiro mundo, por achar que lá suas dificuldades serão mínimas. Mas, ao analisarmos o contexto da época, José foi ser missionário numa das maiores superpotências de então, um império de primeira grandeza. Se se perguntasse a muitos se gostariam de ser missionários, e aos que respondessem SIM lhes desse a possibilidade de escolher entre a América (EUA) e a África, você arriscaria qual destino teria preferência?

Pois é, José foi para a América de seus dias, mas não por sua escolha própria, e foi fazer parte da base da pirâmide social egípcia, algo como o assistente do carimbador reserva da seção de almoxarifado de peças imprestáveis. Muitos pretensos candidatos a missionários, se soubessem que poderiam passar anos sendo pessoas esquecidas em lugares desprezíveis, bateriam no peito estufado e diriam: “não acredito que isso é o que Deus projetou para mim, alguém com as qualidades, características e competências que possuo, com tanto investimento que fiz para ser um missionário de um ministério relevante, pronto para ganhar milhares para Cristo!”.

Mas, para José, o governante que dez entre dez faraós queriam ter, o começo de sua história foi frustrante, marcante (no sentido de deixar cicatrizes) e claramente decepcionante. É de admirar que ele não tenha perdido o foco, a razão e a sobriedade depois de tantas experiências amargas: inveja e traição pelos próprios irmãos, vendido a estrangeiros, caluniado e injustiçado pelos patrões a quem tanto serviu e, finalmente, esquecido depois de fazer a melhor consultoria profissional (coaching) para um alto funcionário do rei, e de graça! Qualquer um teria entrado em parafuso com essa situações de dar nó na cabeça do ser humano comum.

Por que tanta gente hoje se decepciona com a vida cristã, se a Bíblia lhe apresenta promessas tão fantásticas? Ilusão, crença em promessas fantasiosas? Não, a resposta é muito mais simples, mas não menos trágica: é apenas falta de perseverança e fracas convicções mesmo. Muitas tragédias cristãs e naufrágios na fé seriam evitados pela adoção de um hábito simples e econômico: a leitura devocional da Bíblia de forma constante, cotidiana e confiante. Você, caro leitor, cultiva esse hábito? Talvez a resposta para muitas de suas indagações esteja não no que você está fazendo, mas naquilo que está deixando de lado.

O segredo de José só não é mais simples porque a dificuldade está em colocá-lo em prática, ou seja, quando se trata de ser fiel na prática, a teoria é outra. Mas, era isso que lhe garantia a presença de Deus em sua vida, ou seja, que Deus era com ele (José). Muitos gostariam de poder dizer que Deus era com eles, entretanto somente alguns podem confirmar isso. Um grave erro é querer Deus só nos momentos de pressão e angústia, dificuldade, e desprezá-lo na hora da bonança. Mas, com José era diferente, Deus era com ele, não apenas estava. 

Deus não era acessório para José, era parte integrante de sua vida, não apenas nas tribulações, mas principalmente nas vitórias. Quando Deus deixar de ser apenas um “opcional” na vida de muitos, para se tornar “de fábrica“, suas histórias começarão a mudar.

Mas, IMHO, o segredo de José é descortinado quando ele se casa, já no palácio, e dá nome aos seus filhos, pois é ali que ele deixa claro sua trajetória de vitória e, mais importante, a sequência dessa trajetória: primeiro lhe veio Manassés, depois Efraim. Manassés significa, em termos simples, “esquecer”, enquanto Efraim pode ser entendido [traduzido] por “frutífero”, de onde se compreende que os frutos vêm após um certo período de maturidade e, principalmente, de crescimento da árvore. 

Em poucas palavras, José não guardou rancor e amargura em seu peito por ter sido, por tanto tempo e por tantas pessoas, esquecido, pelo contrário, ele aprendeu a esquecer-se disso. Somente após esse doloroso e moroso processo de deixar as coisas passadas para trás, José pôde dizer adiante, Deus me fez crescer. Você quer crescer? Aprenda a esquecer.

Este foi o grande segredo de José, desprezado e ridicularizado por muitos hoje, dessa geração que, ao invés de clamar a Deus por graça diante da tribulação, clama ao vento por vingança. Mas, a lição é bem clara: o crescimento somente ocorre após o esquecimento. Sabe o porquê dessa lei? Ao guardar raízes de amargura em seu peito, o ser humano fica preso (enraizado, atolado, aprisionado) a um passado de dor que lhe impede de vislumbrar um futuro melhor, desperdiçando seu presente, o dia de Hoje, dado por Deus. É no hoje que plantamos as sementes do sucesso de amanhã, mas se estas sementes estão maculadas pela amargura e ressentimento, não brotarão adequadamente e, se brotarem, crescerão doentes, sem poder atingir todo seu potencial de frutificação e crescimento.

Não é à toa que Paulo disse uma frase impactante sobre esse tema:

    “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação.de Deus em Cristo Jesus.”. Fp 3.13, 14

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